terça-feira, 5 de fevereiro de 2013


EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A educação ambiental é um novo fazer pedagógico, um espaço de reflexão das ações do homem no seu meio ambiente.

O ambiente, antes numa visão restrita ao espaço físico, agora engloba toda a rede de interrelações complexas que regem as relações humanas, como as expressões culturais, sociais e políticas. Neste contexto, o modelo de desenvolvimento que vivemos espelha muitas contradições, como a concentração de renda de poucos e a pobreza de muitos, as grandes plantações de grãos e a fome, o desemprego, a perda da autoestima e da identidade cultural, a devastação do ambiente físico, dos ecossistemas e a perda irreparável da biodiversidade. Não obstante, é por meio da educação ambiental que ousa, inventa, resgata e aposta no desenvolvimento sustentável na busca da garantia da sobrevivência do planeta.

O que significa, portanto um novo “fazer pedagógico”? Significa o rompimento da educação tradicional. A inserção da dimensão ambiental no ensino revoluciona na medida em que tira o homem da confortável posição de espectador e o compromete como agente do processo de desenvolvimento, de transformações. Agora o homem não olha para o ambiente, mas se descobre parte dele.

Para que a educação ambiental possa existir como proposta nos conteúdos programáticos, os diversos atores devem ser ouvidos, respeitados e considerados em todo o processo de planejamento e ação. A interdisciplinaridade passa a ser a forma de trabalho. A escola tem que romper as suas fronteiras e fazer a inserção comunitária de fato. O ensino tem que ter como base de discussão o ambiente, as experiências e os conhecimentos acumulados pela sua comunidade circunvizinha. A comunidade deixa de ser um usuário do sistema e passa a interferir nos seus rumos, discutindo os problemas e elaborando as soluções. As práticas sustentáveis são formas de inserção positiva no ambiente. Somos todos, ao mesmo tempo, educadores e educandos, segundo Paulo Freire.

As preocupações e questionamentos dos gestores responsáveis pela implantação e acompanhamento das políticas de educação ambiental no país, assim como as preocupações da sociedade civil, tem alicerçado uma nova prática, que discute os problemas emergentes, possibilitando a busca de solução local, ao mesmo tempo em que dá ao problema ambiental uma dimensão mundial. A educação ambiental mais uma vez, traduz Paulo Freire, reserva ao educador o papel de animador, o desafio de criar a cada instante, a cada leitura, a cada olhar...

Observamos, no entanto, que a teoria na qual se baseia a educação ambiental ainda está longe de ser prática comum no país e que ainda persiste a falta de articulação entre os diversos segmentos sociais, reflexo de uma visão segmentada do ambiente.

Vivemos um momento delicado. Se por um lado vemos emergir um novo modelo civilizatório, globalizado e urbano, somado a escassez dos recursos de toda ordem e dos espaços, por outro, nos deparamos com o paradigma do desenvolvimento sustentável, o desafio de associar a sustentabilidade ambiental com a sustentabilidade social e econômica.

Este modelo sustentável para ser alcançado exige estratégias em escala planetária. Implica ainda o desenvolvimento de novas formas de solidariedade de modo a garantir índices de governabilidade compatíveis com o projeto global da sustentabilidade.

Uma sociedade orientada para a sustentabilidade redefinirá suas relações com o seu meio ambiente, respeitando seus processos metabólicos no que diz respeito à poluição, assim como a sua capacidade de repor os recursos naturais renováveis e de criar alternativas de substituição e de investimentos em tecnologias alternativas para o caso dos recursos naturais não renováveis. Há de respeitar o tempo do planeta, há de se dar tempo para a vida.

As sociedades sustentáveis combatem o consumismo e o desperdício, levam em conta o processo coletivo e o bem comum sem violar os direitos individuais da pessoa. Baseiam-se numa visão econômico-sócio-ambiental ampla e harmônica. O papel da educação ambiental é o de promover a sustentabilidade nas atitudes e comportamentos dessa sociedade. É o de sustentabilizar as práticas sociais e o domínio específico da educação, entendida como socialização dos indivíduos e construção do cidadão.

Estamos no final do milênio e o futuro já está acontecendo. São as nossas ações de hoje que definirão o amanhã. Sendo assim, o melhor instrumento de transmissão é aquele disponibilizado pela educação sistemática, contínua que se traduz neste conjunto de práticas e de conteúdos de informações que a sociedade acumula, seleciona e redefine de tempos em tempos. É por intermédio dessa reflexão continuada que se mudam hábitos e atitudes, que se incorporam as novas práticas sustentáveis.

O projeto de uma sociedade sustentável nos conclama a olharmos para os nossos legados e fazermos a eles, perguntas cruciais: Como educar para a paz? Como educar para a cooperação e a solidariedade? Como construir a cidadania?

Neste sentido o papel da educação ambiental é, em primeiro lugar o de clarificar o conceito de sustentabilidade, que não é um conceito óbvio. Em seguida, como todo conceito novo, não basta dizer só o que ele significa em tese, é preciso também deixar claro como ele modifica as nossas vidas e como implementá-lo na prática, no cotidiano.

Pensar a indissociabilidade dos fenômenos, ou seja, pensar que a sustentabilidade ambiental não vai existir sem a sustentabilidade social e econômica, e vice-versa, faz parte da própria maneira de pensar dos ambientalistas, que acreditam na interdependência de todas as coisas e numa cadeia de relações que não é mais linear, mas circular.

A questão, no entanto, que se coloca para os formuladores de políticas governamentais e para os atores sociais interessados em serem agentes de mudança, e, sobretudo para os educadores de um modo geral, está em como aplicar este conceito de sustentabilidade.

A educação ambiental é, neste momento, o instrumento para esta transformação. É o desafio de formar pessoas para uma nova sociedade. Para isso, estão em construção metodologias, materiais didáticos e de divulgação, alavancados pelas práticas que buscam a promoção de novos valores nesse processo de transformação do ser humano, com o desenvolvimento de hábitos e atitudes que levem à melhoria da qualidade de vida, à recuperação e conservação do ambiente e, finalmente, à proteção do planeta para as gerações futuras, num processo permanente de relfexão-ação-reflexão, incansavelmente difundido por Paulo Freire.

Nesses últimos 5 anos, crescem os movimentos e as práticas da educação ambiental no Brasil e no mundo. Ela atropela, cria e recria, e transforma... Uma ferramenta para a revisão dos nossos valores, permeando e perpassando toda e qualquer ação que favoreça a relação do ser humano com o seu meio ambiente, nessa nova ordem planetária.

Caminhamos para o novo milênio dando nossos primeiros passos para a garantia do futuro e da preservação da própria espécie humana.


Fani Mamede - Artigo publicado em 1998

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