PROJETO DE INICIATIVAS TRANSVERSAIS DO GOVERNO BRASILEIRO SOBRE BIODIVERSIDADE, ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO
- O PAPEL DA AGRICULTURA FAMILIAR
Agosto/2006
O objetivo do documento a
seguir, intitulado “Iniciativas
Transversais do Governo Brasileiro sobre Biodiversidade, Alimentação e
Nutrição”, está relacionado ao atendimento ao Programa de
Trabalho sobre Agrobiodiversidade criado pelo Órgão Subsidiário de Assessoramento
Científico, Técnico e Tecnológico (SUBSTAA) da Convenção sobre Diversidade
Biológica (CDB).
São duas as estratégias
propostas. A primeira se refere à elaboração de um documento brasileiro sobre
Biodiversidade, Alimentação e Nutrição, submetido ao MRE e apresentado na 8ª
Reunião da Conferência das Partes sobre Diversidade Biológica (COP 8) em março
de 2006. A segunda é a elaboração de um Projeto de Cooperação Técnica com o
envolvimento dos seguintes parceiros: MDA, MMA/SBF, MS/CGPAN, MAPA/CGDS, MAPA/CDSA,
MEC/SECAD/CGEA, MDS/SESAN, CONAB, EMBRAPA, MCT e o MEC/FNDE (alimentação
escolar). O Projeto contará com o apoio de doação financeira do GEF Fundo
Mundial para o Meio Ambiente).
INTRODUÇÃO
O uso e a importância da biodiversidade
na alimentação e na nutrição remonta à própria história da civilização. De
fato, o uso da biodiversidade se materializou com a domesticação das plantas e
dos animais ao longo dos tempos, processo esse que continua até os dias de
hoje.
A relevância desse tema
levou a Convenção sobre Diversidade Biológica – CDB - a criar em 1996, por
iniciativa do governo brasileiro, um Programa sobre Agrobiodiversidade, o
primeiro criado no âmbito da Convenção. Este Programa visa, entre outras,
promover os efeitos positivos e mitigar os impactos negativos nos
agroecossistemas, bem como a conservação e o uso sustentável dos recursos
genéticos, de valor atual e potencial.
Recentemente a CDB,
levando também em consideração as preocupações com a qualidade nutricional dos
alimentos, solicitou ao Órgão Subsidiário de Assessoramento Científico, Técnico
e Tecnológico – SBSTTA- análise e avaliação de proposta relacionada ao uso da
biodiversidade na alimentação e nutrição. A proposta foi recomendada para ser
apreciada pela oitava Conferência das Partes da CDB.
O governo brasileiro, por sua vez, vem
implementado uma série de iniciativas voltadas ao tema. Tais ações estão
diretamente relacionadas à ampliação do uso dos componentes da biodiversidade, do
valor nutricional dos alimentos, segurança alimentar e inclusão social. O
presente documento sintetiza as importantes iniciativas em desenvolvimento pelo
governo brasileiro nesta área.
Um dos principais compromissos
assumidos pelo atual governo brasileiro com a população brasileira foi à reversão
do cenário de miséria e fome vivido por milhões de brasileiros excluídos das
políticas públicas, sem acesso aos direitos humanos mais básicos: alimentação,
saúde e educação.
A questão da fome sempre esteve
diretamente associada a outra triste realidade de grande parte da população
brasileira: a exclusão social. Deste modo logo foram identificadas duas
macro-diretrizes do Governo Federal: inclusão social e combate à fome.
Para o enfrentamento desse desafio o
Governo Federal implantou a estratégia relativa ao Fome Zero, vinculada à
Câmara de Políticas Sociais da Casa Civil da Presidência da República. È
importante registrar que o Fome Zero se compatibiliza com o Projeto de Lei que
cria o Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional. O Fome Zero está sendo
impulsionado pelo Governo para assegurar o direito à alimentação adequada às
pessoas com dificuldades de acesso aos alimentos, promovendo a segurança
alimentar e nutricional e buscando a inclusão social e a conquista da
cidadania. Essa estratégia se insere na promoção da segurança alimentar e
nutricional, contribuindo para a erradicação da pobreza extrema e para a
conquista da cidadania da população mais vulnerável à fome.
O Fome Zero envolve a participação de
dez ministérios e o Conselho Nacional de Segurança Alimentar - CONSEA, além da
integração e a formação de parcerias de âmbito inter-governamental, envolvendo
as três esferas de governo (federal, estadual e municipal) e a sociedade. A
atuação integrada possibilita uma ação planejada articulando o acesso à
alimentação, o fortalecimento da agricultura familiar, a geração de renda e a
mobilização e controle social, tudo sob a ótica dos direitos de cidadania.
Mais do que à distribuição de alimentos, para o Fome Zero a
promoção da segurança alimentar e nutricional está vinculada ao fortalecimento
da agricultura familiar, ao desenvolvimento local sustentável e à preservação
de hábitos alimentares e da produção regional, contribuindo para a conservação
e valorização da biodiversidade brasileira.
A Segurança Alimentar e Nutricional
- SAN é a realização do direito de todos ao acesso regular e
permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer
o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares
promotoras de saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam
ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. Essa definição
apóia-se no direito humano à alimentação, parte dos direitos fundamentais da
pessoa humana, conforme pacto mundial do qual o Brasil é signatário; e no
princípio da soberania alimentar, segundo o qual cada país tem o direito de
definir suas próprias políticas e estratégias de produção, distribuição e
consumo de alimentos, respeitando as múltiplas características culturais dos
povos.
O
Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - CONSEA,
órgão de assessoramento da Presidência da República, tem por objetivo articular
sociedade e governo na promoção de ações e políticas de SAN. Destaca a promoção
da alimentação adequada e saudável, que abrange, na visão do CONSEA, o estímulo
à produção agroalimentar de base familiar e agroecológica; o apoio a circuitos
regionais de produção, distribuição e consumo de alimentos; a valorização dos
aspectos biológicos, simbólicos e culturais da alimentação, referenciados a
saúde, gênero, etnia e patrimônio alimentar; e o incentivo ao aumento do
consumo de frutas, legumes e verduras isentos de agrotóxicos.
Para consolidar essa visão, o Conselho elaborou o Projeto de
Lei, em análise pelo Congresso Nacional, que institui o Sistema Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional e prevê, como obrigação do poder público, a
promoção do direito humano à alimentação por meio da ampliação do acesso aos
alimentos, da conservação da biodiversidade e da utilização sustentável dos
recursos naturais, entre outras medidas.
As principais ações referentes à
garantia da Segurança Alimentar e Nutricional no Ministério de Desenvolvimento
Social e Combate à Fome - MDS, estão sob a responsabilidade da Secretaria
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SESAN. A prioridade é o acesso
à alimentação, a construção da Política Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional (SAN), de acordo com os preceitos da II Conferência Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional (2004).
Os principais programas e ações em
execução são:
·
Programa
de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar – PAA, em parceira com o Ministério de
Desenvolvimento Agrário – MDA e Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB/MAPA;
·
Promoção
de Sistemas Descentralizados de SAN: restaurantes populares, banco de alimentos, cozinhas
comunitárias, e agricultura urbana;
·
Consórcios
de Segurança Alimentar e Nutricional e Desenvolvimento Local – CONSAD, em parceira com a implementação da
Agenda 21;
·
Elaboração
da Lei
Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional – LOSAN, em parceria com
o CONSEA.
O Ministério do Meio Ambiente – MMA,
ponto focal da CDB no Brasil, coordena a execução de diversos projetos
relacionados à promoção do uso sustentável dos componentes da biodiversidade.
Apesar da rica biodiversidade brasileira, grande parte das nossas atividades
agrícolas está baseada em espécies exóticas, o que é um paradoxo. Nos últimos
anos o Governo Brasileiro tem aumentado seus esforços relacionados à ampliação
do conhecimento, valoração e promoção do uso dos recursos genéticos, com
ênfase, inclusive, para a conservação on
farm da biodiversidade agrícola. Algumas dessas ações estão listadas a
seguir:
·
Identificação de espécies da flora brasileira
de valor econômico atual ou potencial - “Plantas para o Futuro”. Esta iniciativa
visa identificar as espécies nativas da flora brasileira comercialmente
sub-utilizadas, de uso local e regional, para utilização direta pelo agricultor
e para ampliar as oportunidades de investimento pelo setor empresarial no
desenvolvimento de novos produtos.
·
Identificação de Parentes Silvestres de
Plantas Cultivadas
(em elaboração) .
·
Iniciativa Brasileira sobre Polinizadores
– Esta é uma iniciativa resultante de parceria entre o MMA,
EMBRAPA e USP e foi estabelecida durante o Encontro Bianual de Abelhas em
Ribeirão Preto no ano de 2000. Tem como objetivo assegurar a sustentabilidade dos serviços de polinização nos ecossistemas
agrícolas. A iniciativa prevê a ampliação dos conhecimentos sobre os múltiplos
benefícios e serviços promovidos pela diversidade de polinizadores, bem como os
fatores que influenciam sua flutuação populacional. A ausência ou a escassez de
polinizadores podem provocar efeitos significativos e na redução da
produtividade dos cultivos, com sérias implicações na economicidade das
atividades agrícolas, comprometendo a própria segurança alimentar.
Adicionalmente, o Projeto: “Conservação e Manejo de Polinizadores para Agricultura Sustentável
Através de uma Abordagem Ecossistêmica” submetido ao GEF, engloba ações
de vários países, com destaque para a Iniciativa Africana de Polinizadores, a
Iniciativa Brasileira de Polinizadores e o Centro Internacional de
Desenvolvimento Integrado dos Povos das Montanhas, Nepal. Essas ações têm em
comum duas características principais: as experiências e envolvimento com à
conservação e uso sustentável de polinizadores e o compromisso com essa
temática.
·
Centros Irradiadores de Manejo da
Agrobiodiversidade – CIMAs.
O projeto é uma parceria entre os MMA e o Ministério do Desenvolvimento Agrário
– MDA, por meio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA.
Tem como objetivo promover o resgate, a conservação, o uso sustentável e a
valorização da diversidade genética contida na agrobiodiversidade e mantida em
co-evolução por comunidades locais, povos indígenas e agricultores familiares.
Atualmente já existem 11 CIMAs implantados, em nove estados da federação, e
outros 11 estão em fase de implantação, com perspectiva de ampliar a
distribuição dos projetos para 18 estados. Em conjunto, os CIMAs deverão
beneficiar diretamente 10 mil famílias de agricultores e capacitar 700 técnicos
extensionistas.
A Companhia Nacional de Abastecimento –
CONAB, por meio do Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar – PAA,
vem promovendo a abertura de mercados específicos para produtos da
biodiversidade, criando novas oportunidades para a utilização dos recursos
originários dos diversos ecossistemas brasileiros, com forte estímulo para os
esforços realizados pelos agricultores familiares na manutenção e promoção do
uso dos componentes da agrobiodiversidade. Estas iniciativas favorecem o
desenvolvimento socioeconômico de comunidades tradicionais, pescadores
artesanais e agricultores familiares. Os produtos adquiridos são destinados a
escolas, creches, restaurantes populares, ao abastecimento de programas de
segurança alimentar voltados a população carente e a formação de estoques
estratégicos.
A CONAB vem, assim, contribuindo na implementação dos
compromissos assumidos pelo Brasil junto a Convenção sobre Diversidade
Biológica, contribuindo decisivamente para alavancar as ações relativas à
segurança alimentar e nutricional e o desenvolvimento socioeconômico das
comunidades tradicionais.
A ação de Agregação de Valor e Renda,
criada no âmbito do MDA, visa o desenvolvimento e a implementação de políticas
para geração de trabalho, renda e agregação de valor aos produtos da
agricultura familiar com foco no uso sustentável da biodiversidade. Uma segunda
ação, a Agroindustrialização da Produção Familiar, relaciona-se à produção
agroecológica, proporcionado apoio a projetos de diversificação das atividades
na agricultura familiar.
A implantação de modelo de assentamento
da Reforma Agrária pelo INCRA, com a concepção de desenvolvimento territorial,
é uma tentativa de compatíbilizar desenvolvimento com sustentabilidade, que
leva em conta as potencialidades e biomas de cada região do País. Assim, os
componentes da biodiversidade brasileira poderão ser utilizados de forma
sustentável em maior escala.
A
Política Nacional de Alimentação e Nutrição, do Ministério da Saúde, tem como
principal objetivo contribuir com o conjunto de políticas de governo voltadas à
concretização do direito humano universal à alimentação e nutrição adequadas e
à garantia da Segurança Alimentar e Nutricional da população. Uma alimentação
saudável, entendida enquanto um direito humano, compreende um padrão alimentar
adequado às necessidades biológicas e sociais dos indivíduos, de acordo com as
fases do curso da vida, tendo por característica três princípios básicos:
variedade, moderação e equilíbrio. Uma alimentação saudável deve ser baseada em
práticas alimentares assumindo os significados sócio-culturais dos alimentos
como fundamento básico conceitual. A Iniciativa
Intersetorial de Incentivo ao Consumo de Frutas, Legumes e Verduras do Brasil
é uma proposta resultante de debate do governo com a Sociedade Civil no
Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – CONSEA que, por meio
de uma ação intersetorial, tem o objetivo de aumentar o consumo, a produção e a
comercialização de alimentos saudáveis, na perspectiva da segurança alimentar e
nutricional (SAN), valorizando hábitos alimentares, dimensões biológicas e
culturais e disponibilidade regional destes alimentos no contexto da produção
sustentável. A publicação do “Guia Alimentar da População Brasileira” e
“Alimentos Regionais Brasileiros” são alguns exemplos do trabalho já
desenvolvido pelo Ministério da Saúde nessa área.
O Programa
de Desenvolvimento da Agricultura Orgânica, é um uma das prioridades Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento ao implementar ações de fomento,
pesquisa, ensino, capacitação, organização social e promoção comercial, entre
outras, com o objetivo de estimular e promover a
conversão de um número cada vez maior de agricultores para um modelo de
agricultura mais limpa e que tem como pré-requisitos a preocupação com a
biodiversidade e com a qualidade de vida das pessoas que estão envolvidas no
processo de produção. Além desse programa, pode-se destacar outros projetos
nesta direção: Produção Integrada de Frutas, Integração Lavoura Pecuária e
Índice de Sustentabilidade.
A
Educação Ambiental se dá nos Ministérios da Educação - MEC e do Meio Ambiente –
MMA no âmbito do Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental. Foram
implementados diversos programas que articulam biodiversidade e segurança
alimentar e nutricional no campo da educação formal e escolar, enfrentando o
desafio de transpor adequadamente pesquisas científicas e documentos
político-jurídicos em material pedagógico, por meio de projetos e materiais que
apóiam processos educacionais continuados, na perspectiva de construir a
sustentabilidade socioambiental. Dentre as principais atividades promovidas
pela parceria, destacam-se:
·
I
Conferência Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente – 2003. Com a participação de 16 mil escolas
de todo o país, envolvendo seis milhões de pessoas em 4067 municípios,
priorizou o debate sobre os temas: água, escola, comunidade, seres vivos e
alimentos.
·
II
Conferência Infanto-Juvenil – 2005.
Contou com a participação de 12 mil escolas, quatro milhões de pessoas,
priorizando debates que integram e popularizam acordos internacionais sobre
biodiversidade, mudanças climáticas, segurança alimentar e nutricional, e
diversidade étnico-racial.
·
Programa
“Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas - 2004/2005” - desenvolvido pela SECAD –
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC e gerido
pela CGEA - Coordenação Geral de Educação Ambiental, com ênfase na formação de
professores e estudantes das escolas participantes da Conferência. O tema
gerador trabalhado na formação de 25 mil professores do Ensino Fundamental foi:
Consumo Sustentável. Neste programa, as temáticas foram tratadas com 21 mil
adolescentes do ensino fundamental, para a estruturação de Com-Vidas- Comissão de Meio Ambiente e
Qualidade de Vida na Escola e Agenda 21 na Escola.
O Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação, autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação - MEC gerencia
o Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE, que tem como
objetivo atender às necessidades nutricionais dos alunos, durante sua
permanência em sala de aula, contribuindo para o crescimento e desenvolvimento
dos alunos, a aprendizagem e o rendimento escolar, bem como a formação de
hábitos alimentares saudáveis.
Atualmente,
o PNAE é considerado um dos maiores programas na área de alimentação escolar do
mundo, porque atende, de forma gratuita, a todos os alunos matriculados na
creche, pré-escolas, ensino fundamental, escolas filantrópicas, quilombolas e
indígenas do país, tendo por base o direito humano à alimentação. Para garantir
seu objetivo, são desenvolvidas as seguintes ações:
·
Projeto
“A horta Escolar como Eixo Gerador de Dinâmicas Comunitárias, Educação
Ambiental e Alimentação Saudável e Sustentável”. Este projeto, apoiado pela FAO, é coordenado pelo
Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE / FNDE com a participação
da Educação Ambiental / SECAD no desenvolvimento dos conteúdos. Ele
visa promover a educação integral da comunidade escolar, especialmente
crianças e jovens, por meio de hortas escolares, incorporando a alimentação
saudável e ambientalmente sustentável como eixo gerador da prática pedagógica.
·
Capacitação a
distância. Tem
como função disseminar os conhecimentos sobre o PNAE, bem como as atuais
diretrizes estabelecidas para o programa, fortalecendo assim os mecanismos de
controle social, na fiscalização das aplicações dos recursos públicos;
·
Capacitação
dos conselheiros de alimentação escolar e agentes envolvidos na execução do
PNAE nas regiões norte e nordeste.
Esse projeto visa melhorar a eficiência, efetividade e eficácia dos Conselhos
de Alimentação Escolar.
PESQUISA E DESENVOLVIMENTO
Diversas atividades de pesquisa
relacionadas ao tema então sendo desenvolvidas. No Ministério da Ciência e
Tecnologia (MCT) tem sido dado apoio a projetos que visam o avanço no
conhecimento da biodiversidade (“Programa de Pesquisa em Biodiversidade”) e da
inclusão social (“Programa de Ciência, Tecnologia e Inovação para Inclusão e
Desenvolvimento Social”). O primeiro busca preservar e ampliar os conhecimentos
sobre diversidade biológica, que constitui a base de recursos de aplicação
alimentar, medicinal e industrial; e o
segundo busca promover a inclusão social por meio de ações que melhorem a
qualidade de vida, estimulem a geração de ocupação e renda e promovam o
desenvolvimento sustentável. Além disso, este programa possui uma ação
específica de “Apoio à Pesquisa e Desenvolvimento Aplicados à Segurança
Alimentar e Nutricional”.
Exemplos de iniciativas apoiadas pelo
MCT através do programa PPBio:
·
Base de dados das plantas aromáticas e frutos da Amazônia - O projeto consiste no inventário das plantas
aromáticas dos cerrados e campos naturais da Amazônia Oriental, no uso dos
dados provenientes para a extensão e consolidação da Base de Dados das Plantas
Aromáticas e Frutos da Amazônia, e na implementação de uma sistema
agroindustrial para Piper aduncum,
planta da região Amazônica rica em óleos essenciais.
·
Projeto
piloto para o cultivo e a destilação de plantas aromáticas da Amazônia para a
obtenção de óleos essenciais - O projeto consiste na investigação
parâmetros físico-químicos da destilação de duas plantas aromáticas, priprioca
(Cyperus articulatus) e estoraque
(Ocimum micranthum), visando determinar as condições ótimas para a exploração
comercial destas espécies.
Além disso, o MCT, por meio do CNPq, tem lançado editais
para o desenvolvimento de projetos voltados à inclusão e desenvolvimento social,
à geração e disponibilização de tecnologias de base ecológica apropriadas para
agricultura familiar, à extensão e disponibilização de tecnologias para
inclusão social nos temas água, alimentação humana e alimentação animal, à
expansão do conhecimento básico e aplicado sobre Segurança Alimentar no âmbito
do Agronegócio.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
- EMBRAPA vem trabalhando diretrizes institucionais para atender os novos
desafios do século XXI no que se refere à geração de tecnologias sustentáveis
voltadas à produção agropecuária. Nesse sentido, podemos destacar algumas ações
de pesquisa e desenvolvimento da EMBRAPA:
(1)
a formalização do Grupo de Trabalho de
Agroecologia (composto por 15 pesquisadores), com a finalidade de estruturar o
Marco Referencial em Agroecologia e o Programa Nacional de Pesquisa em
Agroecologia, documentos base para a elaboração e execução de projetos
em agroecologia atrelados aos conceitos de agrobiodiversidade e manejo de
agroecossistemas;
(2)
o Projeto Biodiversidade Brasil-Itália,
com os objetivos de contribuir para o manejo sustentável da agrobiodiversidade,
amenizar o nível de pobreza e garantir a segurança alimentar das comunidades
rurais, por meio de ações de conservação, valoração e uso dos recursos
genéticos, associando o conceito de agrobiodiversidade aos de agroecologia e
sustentabilidade;
(3)
o Projeto Integração Lavoura-Pecuária,
que busca conferir maior sustentabilidade à exploração de ambas atividades
rurais;
(4)
o Projeto Rede Nacional de Recursos Genéticos
- RENARGEN, que objetiva conservar e estimular o uso sustentável da
diversidade genética, com ênfase no enriquecimento, caracterização, valoração e
documentação da informação relacionada aos Recursos Genéticos animais, vegetais
e de microrganismo.
Ao reconhecer a complexidade da
transição da agricultura convencional para sistemas agrícolas de base
ecológica, estão sendo articuladas ações de capacitação e de apoio ao ensino e
à pesquisa e ao desenvolvimento de tecnologias adequadas para este processo,
que tenham como principal característica à adaptabilidade aos diferentes
agroecossistemas e sistemas aquáticos. O Ministério do Desenvolvimento Agrário
também estimula pesquisas em rede orientadas pelo enfoque sistêmico (seria
holístico?).
Inclusão social
é a preocupação constante e transversal das ações e iniciativas governamentais,
como as acima descritas. Neste sentido, é relevante mencionar que desde o ano
de 2003, a CONAB, órgão ligado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento - MAPA, vem operando, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social - MDS e o
Ministério de Desenvolvimento Agrário - MDA, o Programa de Aquisição de
Alimentos da Agricultura Familiar – PAA. Este Programa tem por objetivo
promover a inclusão social da agricultura familiar, por meio da aquisição de
produtos deste setor, seguido de distribuição para pessoas em situação de
insegurança alimentar ou para a formação de estoques estratégicos.
Outra ação
importante tem sido a inserção no Plano Agrícola e Pecuário, do país de forma
mais intensa a cada ano, de mecanismos que privilegiem os produtores que
trabalham de forma ambientalmente e socialmente corretas.
Para o alcance da
sustentabilidade nos agroecossistemas, o Ministério do Desenvolvimento Agrário
vem orientando seus programas na perspectiva do desenvolvimento rural
sustentável, adotando como princípio básico a menor dependência possível de
insumos externos e a conservação dos recursos naturais.
A agricultura familiar responde, em
média, por 60% de todos os alimentos que chegam à mesa dos brasileiros: 84% da
mandioca, 67% do feijão, 52% do leite, 49% do milho, 40% das aves e ovos e 58%
dos suínos. Representam mais de 84% dos imóveis rurais do País e estão
presentes em mais de 4,1 milhões de propriedades no meio rural. Emprega sete de
cada dez trabalhadores do campo. Mantém no campo milhões de pessoas que
seguiriam para as grandes cidades em busca de trabalho e emprego. [1]
Buscando dar
uma resposta a demanda crescente da sociedade brasileira, o MDA no âmbito da
sua competência de coordenador nacional da reforma agrária e da promoção do
desenvolvimento sustentável do segmento rural constituído pelos agricultores
familiares, vem desenvolvendo várias ações de promoção de estilos de
agricultura mais sustentáveis, articulando políticas públicas destinadas a
apoiar agricultores e agricultoras familiares, pescadores artesanais e
aqüicultores, extrativistas, silvicultores, ribeirinhos, quilombolas e
indígenas.
O
desenvolvimento sustentável de territórios rurais é uma das políticas do MDA,
destinada à promoção da articulação e a gestão descentralizada das políticas
públicas em apoio ao desenvolvimento sustentável, tendo como área de atuação o
território rural, priorizando os territórios rurais que tenham maior incidência
de agricultores familiares, beneficiários dos programas da reforma e do
reordenamento agrário.
Outra
grande política é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(Pronaf) é um programa que tem por missão promover o desenvolvimento local
sustentável por meio da valorização humana e dos recursos naturais.
Frente
aos desafios impostos pela necessidade de implementar estratégias de produção
agropecuária que sejam compatíveis com os ideais do desenvolvimento
sustentável, os aparatos públicos da ação de Assistência Técnica e Extensão
Rural transformaram sua prática convencional e introduziram mudanças
institucionais, para que atender às novas exigências da sociedade.
Ao
reconhecer a complexidade da transição da agricultura convencional para
agriculturas de base ecológica, são articuladas ações de capacitação e de apoio
ao ensino e à pesquisa e ao desenvolvimento de tecnologias adequadas para este
processo, que tenham como principal característica à adaptabilidade aos
diferentes agroecossistemas e sistemas aquáticos. São estimuladas também as
pesquisas em rede e que se orientam por um enfoque sistêmico.
Cabe
ao MDA orientar também, no âmbito deste Programa a aplicação do crédito rural
da agricultura familiar para projetos produtivos adequados às potencialidades
regionais e às especificidades de cada bioma, de modo a obter maior eficiência
e eficácia na aplicação dos recursos financiados, inclusive com redução do risco
nas atividades.
A ação de Agregação de Valor e Renda
está voltada para o desenvolvimento e implementação de políticas para geração
de trabalho, renda e agregação de valor aos produtos da agricultura familiar
com foco no uso sustentável da biodiversidade.
A ação de Agroindustrialização da
Produção Familiar é uma importante ferramenta para a organização e agregação de
valor à produção agroecológica. Esta ação busca apoiar projetos de
diversificação das atividades na agricultura familiar.
A ação de incentivo e
fortalecimento do turismo rural permite não só a valorização dos aspectos
naturais, culturais e da atividade produtiva das comunidades familiares, mas
também estimula a recuperação e conservação da economia das regiões envolvidas.
O
compromisso com o Programa de Biodisel, considerado a energia do futuro, por
ser um tipo de combustível produzido a partir de fontes naturais e renováveis,
como óleos vegetais e as gorduras animais, propicia a criação de milhares de
empregos na agricultura familiar, estimulando a inclusão social.
Vale destacar o papel do Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra), uma autarquia federal com a missão
prioritária de realizar a Reforma Agrária, manter o cadastro nacional de
imóveis rurais e administrar as terras públicas da União. Está implantado em
todo o território nacional.
O Incra incorpora entre suas prioridades a implantação de
um modelo de assentamento com a concepção de desenvolvimento territorial. O
objetivo é implantar modelos compatíveis com as potencialidades e biomas de
cada região do País. Outra tarefa importante no trabalho da autarquia é o
equacionamento do passivo ambiental existente, a recuperação da infra-estrutura
e o desenvolvimento sustentável dos assentamentos existentes no país.
O associativismo e participação social
são considerados componentes básicos de inúmeras iniciativas, pois contribuem
para o fortalecimento e o empoderamento das comunidades, um dos caminhos
eficientes que leva à inclusão social. Neste sentido, o foco nas questões sócio
ambientais tem sido intensificada, notadamente nos Ministérios da Agricultura,
do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Agrário, e não somente ambiental, como
estratégia para a sustentabilidade na suas seis dimensões: econômica, social,
ecológica, ética, cultural e política.
Com o desenvolvimento da Iniciativa Biodiversidade,
Alimentação e Nutrição, os esforços para maior integração e sinergismo entre as
iniciativas e ações governamentais se ampliaram. O momento atual marca de forma
inequívoca não só à vontade, mas a determinação da equipe de governo em
convergir os esforços na direção dos objetivos desta nova iniciativa da CDB.
Dentre as ações futuras quatro merecem
destaque. Em primeiro lugar, é pensamento de todos os órgãos de governo a
adaptação das atuais atividades, visando convergir mais especificamente com os
objetivos da iniciativa BFN. Em segundo lugar, a elaboração de um projeto de
âmbito nacional nesta temática já é considerado o segundo passo. Também é
imperativo que o sinergismo estabelecido entre os órgãos de governo seja
ampliado para as demais instituições da sociedade civil que atuam com a mesma
temática. Finalmente, é necessário fortalecer a cooperação com outros países
para a troca de experiências, conhecimento e tecnologias que são pertinentes ao
alcance dos objetivos da Iniciativa da CDB.
[1] Agricultura
Familiar no Brasil: Uma Análise a Partir do Censo Agropecuário de 95/96.
Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO. 1999.
Nenhum comentário:
Postar um comentário