EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
A educação
ambiental é um novo fazer pedagógico, um espaço de reflexão das ações do homem
no seu meio ambiente.
O ambiente,
antes numa visão restrita ao espaço físico, agora engloba toda a rede de
interrelações complexas que regem as relações humanas, como as expressões
culturais, sociais e políticas. Neste contexto, o modelo de desenvolvimento que
vivemos espelha muitas contradições, como a concentração de renda de poucos e a
pobreza de muitos, as grandes plantações de grãos e a fome, o desemprego, a
perda da autoestima e da identidade cultural, a devastação do ambiente físico,
dos ecossistemas e a perda irreparável da biodiversidade. Não obstante, é por meio
da educação ambiental que ousa, inventa, resgata e aposta no desenvolvimento
sustentável na busca da garantia da sobrevivência do planeta.
O que significa,
portanto um novo “fazer pedagógico”? Significa o rompimento da educação
tradicional. A inserção da dimensão ambiental no ensino revoluciona na medida
em que tira o homem da confortável posição de espectador e o compromete como
agente do processo de desenvolvimento, de transformações. Agora o homem não
olha para o ambiente, mas se descobre parte dele.
Para que a
educação ambiental possa existir como proposta nos conteúdos programáticos, os
diversos atores devem ser ouvidos, respeitados e considerados em todo o
processo de planejamento e ação. A interdisciplinaridade passa a ser a forma de
trabalho. A escola tem que romper as suas fronteiras e fazer a inserção
comunitária de fato. O ensino tem que ter como base de discussão o ambiente, as
experiências e os conhecimentos acumulados pela sua comunidade circunvizinha. A
comunidade deixa de ser um usuário do sistema e passa a interferir nos seus
rumos, discutindo os problemas e elaborando as soluções. As práticas
sustentáveis são formas de inserção positiva no ambiente. Somos todos, ao mesmo
tempo, educadores e educandos, segundo Paulo Freire.
As preocupações
e questionamentos dos gestores responsáveis pela implantação e acompanhamento
das políticas de educação ambiental no país, assim como as preocupações da
sociedade civil, tem alicerçado uma nova prática, que discute os problemas
emergentes, possibilitando a busca de solução local, ao mesmo tempo em que dá
ao problema ambiental uma dimensão mundial. A educação ambiental mais uma vez,
traduz Paulo Freire, reserva ao educador o papel de animador, o desafio de
criar a cada instante, a cada leitura, a cada olhar...
Observamos,
no entanto, que a teoria na qual se baseia a educação ambiental ainda está
longe de ser prática comum no país e que ainda persiste a falta de articulação
entre os diversos segmentos sociais, reflexo de uma visão segmentada do
ambiente.
Vivemos um
momento delicado. Se por um lado vemos emergir um novo modelo civilizatório,
globalizado e urbano, somado a escassez dos recursos de toda ordem e dos
espaços, por outro, nos deparamos com o paradigma do desenvolvimento
sustentável, o desafio de associar a sustentabilidade ambiental com a
sustentabilidade social e econômica.
Este
modelo sustentável para ser alcançado exige estratégias em escala planetária.
Implica ainda o desenvolvimento de novas formas de solidariedade de modo a
garantir índices de governabilidade compatíveis com o projeto global da
sustentabilidade.
Uma sociedade orientada para a
sustentabilidade redefinirá suas relações com o seu meio ambiente, respeitando
seus processos metabólicos no que diz respeito à poluição, assim como a sua capacidade
de repor os recursos naturais renováveis e de criar alternativas de
substituição e de investimentos em tecnologias alternativas para o caso dos
recursos naturais não renováveis. Há de respeitar o tempo do planeta, há de se
dar tempo para a vida.
As sociedades sustentáveis combatem
o consumismo e o desperdício, levam em conta o processo coletivo e o bem comum
sem violar os direitos individuais da pessoa. Baseiam-se numa visão
econômico-sócio-ambiental ampla e harmônica. O papel da educação ambiental é o
de promover a sustentabilidade nas atitudes e comportamentos dessa sociedade. É
o de sustentabilizar as práticas sociais e o domínio específico da educação,
entendida como socialização dos indivíduos e construção do cidadão.
Estamos no
final do milênio e o futuro já está acontecendo. São as nossas ações de hoje
que definirão o amanhã. Sendo assim, o melhor instrumento de transmissão é
aquele disponibilizado pela educação sistemática, contínua que se traduz neste
conjunto de práticas e de conteúdos de informações que a sociedade acumula,
seleciona e redefine de tempos em tempos. É por intermédio dessa reflexão
continuada que se mudam hábitos e atitudes, que se incorporam as novas práticas
sustentáveis.
O
projeto de uma sociedade sustentável nos conclama a olharmos para os nossos
legados e fazermos a eles, perguntas cruciais: Como educar para a paz? Como
educar para a cooperação e a solidariedade? Como construir a cidadania?
Neste
sentido o papel da educação ambiental é, em primeiro lugar o de clarificar o
conceito de sustentabilidade, que não é um conceito óbvio. Em seguida, como
todo conceito novo, não basta dizer só o que ele significa em tese, é preciso
também deixar claro como ele modifica as nossas vidas e como implementá-lo na
prática, no cotidiano.
Pensar
a indissociabilidade dos fenômenos, ou seja, pensar que a sustentabilidade ambiental não vai existir sem a sustentabilidade
social e econômica, e vice-versa, faz parte da própria maneira de pensar dos
ambientalistas, que acreditam na interdependência de todas as coisas e numa
cadeia de relações que não é mais linear, mas circular.
A
questão, no entanto, que se coloca para os formuladores de políticas
governamentais e para os atores sociais interessados em serem agentes de
mudança, e, sobretudo para os educadores de um modo geral, está em como aplicar
este conceito de sustentabilidade.
A
educação ambiental é, neste momento, o instrumento para esta transformação. É o
desafio de formar pessoas para uma nova sociedade. Para isso, estão em
construção metodologias, materiais didáticos e de divulgação, alavancados pelas
práticas que buscam a promoção de novos valores nesse processo de transformação
do ser humano, com o desenvolvimento de hábitos e atitudes que levem à melhoria
da qualidade de vida, à recuperação e conservação do ambiente e, finalmente, à
proteção do planeta para as gerações futuras, num processo permanente de
relfexão-ação-reflexão, incansavelmente difundido por Paulo Freire.
Nesses
últimos 5 anos, crescem os movimentos e as práticas da educação ambiental no
Brasil e no mundo. Ela atropela, cria e recria, e transforma... Uma ferramenta
para a revisão dos nossos valores, permeando e perpassando toda e qualquer ação
que favoreça a relação do ser humano com o seu meio ambiente, nessa nova ordem
planetária.
Caminhamos
para o novo milênio dando nossos primeiros passos para a garantia do futuro e
da preservação da própria espécie humana.
Fani Mamede - Artigo publicado em 1998
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