2º FÓRUM DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL –
GOIÂNIA-GO - novembro/1998
PRINCÍPIOS E PRÁTICAS EM EA NAS
ÚLTIMAS DÉCADAS
Fani Mamede
Parafraseando Aziz Ab’Saber: A EA representa “um chamamento
à responsabilidade planetária dos membros de uma assembléia de vida dotas de
atributos e valores essenciais: à capacidade de escrever sua própria história
informar-se permanentemente do que está acontecendo em todo o mundo: criar
culturas e recuperar valores essenciais da condição humana. E, acima de tudo,
refletir sobre o futuro do planeta.”
Para falar um pouco sobre o caminho da EA nas últimas
décadas, devemos considerar que a humanidade arca hoje com grandes ônus
decorrentes do equívocos cometidos, quando se promoveu a injustiça social, a
concentração de renda e a degradação ambiental.
Recordando um pouco os
conceitos, que a EA não é ecologia, não é ecossistemas, não é qualidade de vida
e também não é ecodesenvolvimento. Na Conferência de Tbilisi, em 1977, ela foi
definida como “um processo de reconhecimento de valores e clarificação de
conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as
atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as interrelações entre os
seres humanos, suas culturas e seus meios biofísicos. A EA também está
relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a
melhoria da qualidade de vida.
Enrique Leff em 1994,
amplia mais este conceito quando diz que a EA implica um processo de reflexão e
tomada de consciência dos processos ambientais emergentes, que conduzem à
participação e ao resgate da cidadania nas tomadas de decisões, conjuntamente
com a transformação dos métodos de pesquisa e formação, através dos enfoques
interdisciplinares. A EA também propõe gerar a percepção crítica, visando uma
intervenção e uma metodologia autônoma na direção de estratégias de
desenvolvimento e conseqüente melhoria na qualidade de vida.
Nas últimas décadas percebemos uma evidente mudança de
paradigmas no desenvolvimento de trabalhos na área da educação ambiental.
Evoluímos de uma vertente ecológica-preservacionista-catastrofista para uma
vertente sócio-ambiental-sustentabilista.
Esta nova forma de
olhar e trabalhar a ações em EA, reflete um novo caminho no tratamento das
questões ambientais por meio da educação. Sabemos que os conceitos, as
metodologias, as estratégias da educação ambiental estão em plena construção. O
momento é efervescente. Em todo o país novas práticas são iniciadas, avaliadas,
transformadas, contextualizadas. Vivemos enfim, um amplo processo de criação.
Para nortear esses processos, a EA identifica seus
princípios orientadores: O ambiente deve ser visto como um todo, nos seus
aspectos naturais e criados pelo homem (político, social, econômico,
científico-tecnológico, histórico-cultural e moral); a EA deve acontecer de
modo contínuo e permanente, dentro e fora da escola; deve integrar várias áreas
do conhecimento, é multi e interdisciplinar; pensar global e agir local ou agir
global pensando nos efeitos locais; insistir no valor e na necessidade da
cooperação local, nacional e internacional, para prevenir e resolver os
problemas ambientais; contribuir na identificação dos sintomas e das causas
reais dos problemas ambientais, desenvolvendo o senso crítico e as habilidades
necessárias para resolvê-los.
Para executar suas ações a EA faz uso de várias
estratégias, tais como: Informação, formação, divulgação educativa,
mobilização, sensibilização, capacitação, comunicação educativa e a campanha
educativa.
Orientada por esses
princípios e estratégias, a EA vai desenhando o seu caminho de forma única. Não
podemos entender que uma educação transformadora, tradução da própria
cidadania, tenha a mesma inserção no ensino ou nas ações com a comunidade, que
outros temas e matérias fechadas e tradicionais. A EA inova, movimenta e dá uma
nova dinâmica nas relações.
Sabemos que entre os
objetivos da EA está a promoção da consciência ambiental no ser humano. Ao
construir esta consciência ambiental, o ser humano internaliza, compreende e se
transforma.
Temos então a ação dos agentes transformadores, com
práticas pautadas numa ética planetária solidária e eqüitativa.
Ainda não é o
bastante, para que se defina o processo de desenvolvimento da racionalidade
ambiental é necessária, finalmente ação qualificada no meio, como define com
muito brilhantismo a Profa. Naná Mininni Medina.
Vamos tentar entender
a educação ambiental numa nova ordem, ampliada pelas grandes questões
ambientais. Primeiramente, observamos as prioridades globais para o tratamento
das questões ambientais, quais sejam: escassez, mau uso e poluição das águas;
contaminação dos oceanos; exploração excessiva dos recursos marinhos;
degradação dos solos; perda da biodiversidade; aquecimento da terra; destruição
da camada de ozônio; concentração da população nas cidades; baixa qualidade de
vida; falta de tratamento e destinação de resíduos.
Para podermos trabalhar com a EA nestas questões e para
compreendermos o processo de construção de um novo modelo de desenvolvimento,
precisamos entender quais são os fatores diretos de transformação do meio
ambiente. Nas atividades produtivas, temos a indústria, produção agrícola e
serviços; a exploração e uso de recursos naturais; infra-estrutura. Nos
assentamentos humanos, a questão populacional; a urbanização e metropolização e
os assentamentos rurais.
Passamos então a identificar os fatores condicionantes do
desenvolvimento:
Capacitação científica e tecnológica; educação e
informação; cooperação e mudanças institucionais; trabalho e emprego; políticas
macroeconômicas; qualidade ambiental; nova ordem mundial e a globalização dos
mercados e distribuição de rendas.
O que concluímos com
esta reflexão? Percebemos claramente, a EA permeando e perpassando toda e
qualquer ação nessa nova ordem planetária.
Buscamos um novo
modelo de desenvolvimento, um modelo sustentável que garanta que todos possam
ter acesso aos direitos de cidadania, bens e serviços necessários à uma vida de
qualidade. É também aquele que evita o desperdício dos recursos naturais e
respeita os limites do meio ambiente, preservando o direito à vida das gerações
futuras.
A educação ambiental é
sem dúvida alguma a grande ferramenta mundial que prepara o ser humano para
essas mudanças. Mudanças que promovam o entendimento desses ideais de
sustentabilidade que só podem ser alcançados com a revisão dos nossos valores.
Para falar do real
caminho da EA nessa última década, consideramos o ano de 1997 como um marco da
EA no país. Vinte anos após a Conferência de Tbilisi. Demoramos para acordar
mas agora parece que temos muita pressa de chegar. Essa é a melhor parte.
Em 1997 tivemos os
grandes eventos de avaliação e de definição de perspectivas:
·
1ª Teleconferência
Nacional de Educação Ambiental – junho/97
·
IV Fórum de Educação
Ambiental/I Encontro da Rede Brasileira de Educação Ambiental – Guarapari-ES,
agosto/97
·
I CNEA - I Conferência
Nacional de Educação Ambiental – Brasília-DF, outubro/97, cujo trabalho
coletivo foi apresentado com sucesso na Conferência Internacional sobre Meio
Ambiente e Sociedade: Educação e Conscientização Pública para a
Sustentabilidade
Durante a I CNEA foi construída a Declaração de Brasília
para a Educação Ambiental que uma síntese de caráter nacional que pontua a
problemática nacional e identifica as recomendações para subsidiar a política
nacional de educação ambiental.
Observamos então, em 1998, que o panorama nacional é de
implementação, de práticas locais e principalmente, de muita reflexão, tendo em
vista os resultados de 97 que efervesceu em encontros, trocas de experiências,
mobilizações e articulações em todo o território nacional. 70% dos estados
brasileiros já estão construindo ou implementando seus programas estaduais de
educação ambiental, suas diretrizes políticas para a área.
Caminhamos para o novo milênio dando nossos primeiros
passos para a garantia do futuro e da preservação da espécie humana.
Cito um trecho da conferência da Profa. Naná Mininni Medina
na I CNEA que reflete bem esse nosso desafio: “olhem, quão grande é o desafio.
Estamos procurando formar pessoas diferentes, para a construção de sociedades
diferentes. Nesse sentido realmente temos que reconhecer que somos muito
audaciosos. Mas as conquistas no futuro são dos audazes, então eu acredito que
justamente, é bom que nos proponhamos de uma forma muito audaciosa formar o
homem do futuro. Vamos errar, claro que vamos errar, mas também vamos aprender
com nossos erros.”
Estou chamando a vocês
a serem audazes e criativos, mas este ser audaz não implica fazer qualquer
coisa em qualquer momento, um ser audaz e criativo de maneira consciente,
implica consolidar processos e entender fenômenos, ou seja, processos
permanentes de reflexão- ação- reflexão.”
E ela vai mais além,
quando diz: “o educador Paulo Freire, nos dizia: ação - reflexão - ação.
Se não somos capazes
de refletir sobre a nossa própria prática, se não somos capazes de analisar e
avaliar a própria prática, dificilmente seremos capazes de mudá-la.
Finalizo dizendo uma
frase de Antonio Machado, que acredito ajustar-se muito claramente a nossa
tarefa de educadores ambientais e aos nossos múltiplos e complexos desafios:
“ caminante no hay camino , se hace camino al andar”.
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